sábado, 15 de agosto de 2009

BOA PERGUNTA!


Quarta, 12 de Agosto de 2009, 18h00
Que bicho será o livro no futuro?

O assunto é apenas aparentemente chato e está movimentando quem pensa no futuro da leitura no Brasil - hoje. Depois de afirmar na cerimônia de lançamento do vale-cultura e também no programa semanal Café com o presidente que o governo está se esforçando para levar a cultura a todos, mas o setor editorial "não ajuda", o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu uma resposta dura, em números de associações que representam o setor.O estudo feito pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, da USP, a pedido do Sindicato Nacional dos Editores e Livreiros e da Câmara Brasileira do Livro, aponta que o preço do livro caiu nos últimos anos: 24,5% nos didáticos; 22,4% nas obras gerais (ficção e não-ficção); 38% nos religiosos e 23,3% nos livros científicos, técnicos e profissionais.Como mostra o Prosa Online, o governo não está totalmente de acordo com esses números e já pergunta "quem sente essa redução de preço quando vai à livraria?". O debate chega no exato momento em que o governo propõe taxar em 1% a receita de editores distribuidores e livreiros para financiar o Fundo Pró-Leitura, que vai financiar diversas ações de incentivo à leitura, como informa a Folha de S. Paulo.Alguns, contudo, veem o buraco muito mais embaixo. André Forastieri, que já foi editor da Conrad e da Pixel, é um dos que olham os números e enxergam um futuro negro para o livro - embora não necessariamente para a literatura. Um trecho:
[Em 2009,] as vendas de livros caíram 10% no segundo trimestre de 2009, com relação ao mesmo período de 2008. Agora, lustro minha bola de cristal e prevejo: não sobe mais. Daqui para frente, é ladeira abaixo. Porque as pessoas não leem mais. Têm muitas outras coisas divertidas para fazer. Inclusive escrever em tantos blogs, twitters e tal. Porque quem lê, lê de maneira diferente - quebrado, online, múltiplas vezes.
Para ele, além dessa mudança na forma de ler, sobre a qual já falamos de passagem aqui, há uma "questão maior":
É a área de didáticos, paradidáticos e técnico/científicos. Quase metade do total de livros vendidos em 2008. Com a chegada de um computador por aluno - ele chegará, não hoje nem amanhã, mas o processo já começou e não tem volta - não existe nenhuma justificativa para jogar essa dinheirama fora imprimindo 100 milhões de exemplares.
A argumentação está, pelo menos nesse ponto, alinhada com o que diz a pesquisa dos editores, que afirmam que sem as compras do governo, 2008 não seria o ano bom que aparenta: o crescimento de quase 10% emagrece para menos de 2%. As ideias de Forastieri podem ser tresloucadas, acertadas ou um pouco das duas. Fugir do debate é a única alternativa perigosa. E você, como acha que vai estar lendo no futuro?
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Hum... Boa pergunta! Sem dúvida nenhuma, a melhor solução é utilizar a internet como suporte de leitura e produção textual, já que novos gêneros textuais surgiram com esse advento. Pode até ser que futuramente não exista justificativa para se imprimir mais exemplares, mas isso não significa o fim dos livros. Há uma mudança no suporte. A tecnologia está aí, graças a Deus, não adianta fugir. Vamos renovar!

terça-feira, 11 de agosto de 2009

"Resistência - A história de uma mulher que desafiou Hitler", de Agnès Humbert

"As mulheres sempre perdem a guerra. Não a querem, mas a perdem. Perdem quando estão no caminho dos exércitos e se tornam botim. Perdem quando batalham em silêncio nas cidades esvaziadas dos seus homens, para manter sólida a retarguada e conservar a ordem do país. Perdem quando recebem seus homens num caixão ou quando eles voltam com o equilíbrio despedaçado [...]. O livro de Agnès, entretanto, consegue não ser um livro de perdas. Eu diria até que é um livro de conquistas. Quando se é obrigada a passar seis semanas sem trocar a roupa íntima, proibida de lavá-la e praticamente sem lavar-se, quando os piolhos infestam a cabeça e a fome devora o estômago, manter a dignidade é uma conquista diária" (Marina Colasanti)


Comprei este livro por seu título instigador.
Quem teria sido essa mulher com tamanha força e coragem para desafiar esta personalidade constatadamente sanguinária, violenta? Acho que me identifiquei um pouco com o título da história, talvez tenha me reconhecido um pouco nesse ato de resistir, de questionar e, por isso, decidi ler sua história. Achei que valeria a pena lê-la.
Mistura de diário pessoal e relato histórico, Resistência - A história de uma mulher que desafiou Hitler, de Agnès Humbert, mostra a derrocada da França diante do Nazismo, a ocupação de Paris e a atuação de Agnès no movimento de resistência a Hitler e suas idéias. Uma história densa, triste em alguns momentos, mas retrato verídico de uma época histórica que merece ser lembrada como exemplo do que NÃO se deve repetir. Uma narrativa feminina, sensível, e-m-o-c-i-o-n-a-n-t-e!
A precisão do relato da autora, que manteve um diário pessoal durante o início da ocupação de Paris pelas tropas nazistas, surpreende. Como milhões de franceses, Agnès conheceu o êxodo, o colapso de sua França, a prostração de seu povo, a tortura e a humilhação, mas não se deixou abater. Enquanto pode, junto com um grupo de amigos, redigiu e divulgou idéias revolucionárias contra Hitler no jornal Resistência, sempre movida pela esperança de que aquela realidade pudesse ser modificada.
Quando descoberta, foi presa e condenada a uma prisão feminina de trabalhos forçados. Ali conheceu, em suas próprias palavras, "um drama atrás do outro". Mas, figura feminina forte que era, sempre conseguiu ver beleza nas situações pelas quais passava. Tinha olhos de artista... No trajeto para o trabalho, por exemplo, conseguia perceber a beleza da arquitetura local, a beleza das flores... Fazia uma descrição exemplar, analisava. Como alguém conseguia encontrar beleza num momento tão desprezível? Como leitora, me questionei sobre isso. Descobri que a beleza estava dentro de Agnès, impossível não percebê-la.
Durante quatro anos, a autora ficou presa. Quatro anos relatados com muito sentimento. Me impressionou. Principalmente porque se trata de uma mulher, figura historicamente marcada pela submissão, pela ausência de direitos, pela fragilidade, embora, felizmente, os tempos tenham mudado e a realidade atual seja outra.
Que bom que existem mulheres assim! Um livro que merece ser lido!